Os principais clubes da Premier League vêm reforçando seus departamentos de player care, área dedicada a resolver questões fora de campo e, assim, preservar o desempenho dos atletas. No Manchester United, por exemplo, a equipe responsável fica logo na entrada do corredor dos jogadores em Carrington, com a porta sempre aberta para atender desde problemas de moradia até apoio psicológico.
Quem faz o quê
Segundo Hugo Scheckter, ex-West Ham e Brentford e fundador do Player Care Group, o setor cuida de “tudo que afeta o atleta e não é futebol nem parte médica”. A lista inclui encontrar casas, matricular filhos em escolas, regularizar documentos, agendar consultas ou indicar suporte de saúde mental.
Scheckter cita casos inusitados, como o de um atleta que pediu para “caçar” um pássaro que assustava a namorada. A solução foi instalar um dispositivo ultrassônico comprado on-line. “Parece pequeno, mas se ele não dorme porque o pássaro bate na janela, isso chega ao treino”, explicou.
Visão estratégica
Um dirigente da liga descreveu a área como “o canário na mina de carvão”, capaz de perceber primeiro sinais de dificuldade. Por isso, o escritório em Carrington foi projetado pelo estúdio Foster + Partners bem visível aos jogadores.
O tamanho das equipes varia: de dois a cinco profissionais, separados para elencos masculino, feminino e de base. A efetividade depende do técnico. Alguns veem o setor como indispensável e o incluem em reuniões diárias com nutricionistas e preparadores; outros preferem distância.
Exemplos práticos
Nas reuniões integradas, problemas de rendimento podem ser esclarecidos rapidamente. Scheckter lembra de um atleta que perdeu três quilos porque a namorada viajou e ele não cozinhava. A solução foi providenciar refeições prontas.
Outro caso envolveu atrasos recorrentes de um jogador africano. Depois de conversar, o departamento passou a buscá-lo até que se acostumasse ao horário britânico, evitando multas e perda de vaga.
Imagem: espn.com
Além do jogador
A assistência se estende às famílias, sobretudo parceiras que raramente trabalham após a mudança. “Se a família não se adapta, o atleta pede para sair, e isso é péssimo para o clube”, disse Scheckter.
No West Ham, o grupo de player care chegou a decorar o vestiário com fotos de infância dos atletas, ideia elogiada pelo técnico Nuno Espírito Santo após vitória por 3 a 1 sobre o Newcastle, quebrando jejum de mais de dois meses sem triunfos.
Para os clubes, o equilíbrio está em proteger os jogadores de burocracias — como renovar passaporte ou resolver pendências de aluguel — sem afastá-los da realidade. A meta, resumiu um dirigente, é “tirar o peso do dia a dia para que eles entrem em campo com a cabeça livre”.
Com informações de ESPN
