CBF e clubes iniciam elaboração de fair play financeiro para conter dívidas no futebol brasileiro

Representantes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), dirigentes de clubes e federações começam nesta segunda-feira (11) no Rio de Janeiro uma série de encontros para redigir as bases de um sistema de fair play financeiro. A entidade promete apresentar, em até 90 dias, um texto preliminar com regras destinadas a frear o aumento das dívidas que atingem equipes da Série A à Série D.

O vice-presidente da CBF, Ricardo Gluck, afirma que o objetivo é “mitigar o colapso” provocado pela disparada dos passivos. “Em 2019 alertamos para o risco, mas faltou coragem para implementar. Agora é urgente”, disse o dirigente, que também preside a Federação Paraense de Futebol.

Débitos crescem mais rápido que as receitas

Levantamento do site Convocados aponta que, entre 2023 e 2024, as receitas dos clubes da Série A subiram 10%, e as da Série B, 4,1%. No mesmo período, o endividamento geral avançou 22%. A pandemia, a chegada de patrocinadoras de apostas esportivas (bets) e o aumento de gastos após a criação das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) são apontados como catalisadores do desequilíbrio.

Exemplos recentes expõem a disparidade: Atlético-MG enfrenta atrasos salariais, o Corinthians prometeu quitar R$ 12 milhões em prêmios pendentes, e o Botafogo divulgou balanço com endividamento maior. Na outra ponta, Palmeiras e Flamengo negociaram, respectivamente, Richard Ríos com o Benfica por R$ 195 milhões e Wesley com a Roma por R$ 163 milhões.

Pressão por regras externas

Para o economista Cesar Grafietti, responsável pelo estudo, só um controle independente permitirá decisões impopulares. “Sem respaldo externo, o dirigente tem pouca força para dizer que não pode contratar”, afirmou.

O Cuiabá optou por não participar das reuniões. O presidente Cristiano Dresch questiona a condução pela CBF e cita a situação do Corinthians: “O clube contrata, não paga e continua usando os jogadores. Se houvesse regra, estaria na Série B”. Dresch defende um órgão único de controle, à semelhança dos campeonatos europeus.

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Imagem: Fotos de Pedro Souza via oglobo.globo.com

Clubes divididos, mas diálogo avança

O futebol brasileiro segue fracionado entre a Libra — bloco que reúne, entre outros, Flamengo e Palmeiras — e a Liga Forte União (LFU), na qual estão Botafogo e Atlético-MG. Mesmo assim, o presidente do Santos, Marcelo Teixeira, vê maior disposição ao consenso. No clube, ele implantou um “fair play interno” que reduz a folha salarial e impõe teto aos vencimentos.

Sanções graduais

Especialista em direito desportivo, o advogado Hudson Paiva Jr. explica que o modelo brasileiro deve priorizar, num primeiro momento, a adimplência. “O foco inicial é garantir pagamento de dívidas. Penalidades mais duras, como rebaixamento, ficariam para uma etapa posterior”, disse. Medidas como declarações bimestrais de quitação, transfer ban e ajustes via CNRD estão entre as possibilidades.

A expectativa é de que mudanças estruturais nas finanças dos clubes apareçam em médio a longo prazo, com impactos significativos a partir de dois anos após a adoção das novas regras.

Com informações de O Globo

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