São Paulo – A maternidade, antes vista como obstáculo à carreira de jogadoras, passou a receber respaldo formal de federações e clubes, alterando a rotina do futebol feminino no Brasil e no mundo.
Evolução nas normas internacionais
Desde 2021, a Fifa exige que clubes concedam licença-maternidade paga, garantindo ao menos dois terços do salário e reintegração ao elenco. Em maio de 2024, o Regulamento sobre Estatuto e Transferência de Jogadores (RSTP) ampliou o benefício para, no mínimo, 14 semanas de afastamento remunerado – oito semanas para mães adotivas ou não biológicas. O protocolo também prevê apoio à amamentação, acompanhamento médico e proibição de demissão durante a gestação.
Levantamento de benchmarking da entidade aponta que 68% das equipes oferecem algum tipo de suporte, como horários de treino flexíveis, auxílio-creche e salas de amamentação.
Casos recentes no Brasil
Artilheira histórica do Santos, Ketlen Wiggers descobriu a gravidez com seis semanas em 2025 e foi afastada dos jogos, mantendo contrato e acompanhamento multiprofissional. O clube chegou a organizar o chá-revelação da atleta.
Em 2023, a atacante Sole Jaimes e a goleira Kelly Chiavaro, então no Flamengo, anunciaram gestação e cumpriram licença antes de se transferirem para o 3B da Amazônia. No mesmo ano, Pâmela Faria, do Cruzeiro, foi substituída por Fernanda Tipa fora da janela de transferências – primeira aplicação da regra que permite reposição imediata de atletas grávidas.
Fertilização in vitro e doping
A atacante Carol Baiana, do Santos, teve os óvulos utilizados na gestação conduzida por sua esposa, Aline Guimarães. Em processos de fertilização, jogadoras usam hormônios que podem gerar alerta em exames antidoping; por isso, clubes e federações recebem aviso formal antes do tratamento, evitando punições. O médico Vinicius Bassega, responsável pelo procedimento, afirma que equipes já orientam sobre congelamento de óvulos e calendário de medicação.
Exemplo de outra geração
A lateral Tamires, do Corinthians e da seleção brasileira, engravidou em 2009, quando não havia estrutura para mães atletas. Sem apoio, ficou afastada por dois anos e quase abandonou o futebol. Hoje, com o filho Bernardo adolescente, a jogadora reconhece avanços, mas defende políticas adicionais para reduzir receio de atletas que desejam ter filhos.

Imagem: ge.globo.com
Vitórias na Justiça
Em 2023, a islandesa Sara Björk Gunnarsdóttir venceu ação contra o Lyon no Tribunal de Futebol da Fifa, recebendo mais de 82 mil euros referentes a salários não pagos durante a gestação em 2021.
Adequação dos clubes brasileiros
Dos 16 participantes da Série A1 feminina, 11 responderam à consulta do ge.globo sobre a temática – América-MG, Bahia, Ferroviária, Flamengo, Grêmio, Internacional, Real Brasília, São Paulo, Sport, 3B da Amazônia e Corinthians afirmaram conhecer as normas e disponibilizar departamento médico para gestantes. Fluminense e Bragantino não se manifestaram, enquanto Cruzeiro, Juventude, Palmeiras e Santos não enviaram resposta dentro do prazo.
Entre sugestões de melhoria, dirigentes citam inclusão expressa dos direitos de gestantes nos contratos, garantia de condições para amamentação após quatro meses de licença e programas de capacitação sobre direitos trabalhistas.
Com informações de ge.globo.com