Newcastle upon Tyne (ING) – A compra do Newcastle United por um consórcio liderado pelo Fundo de Investimento Público (PIF) da Arábia Saudita, fechada em outubro de 2021 por 305 milhões de libras, alterou profundamente o cotidiano do clube dentro e fora de campo. Quase quatro anos depois, a equipe orientada por Eddie Howe exibe avanços nas instalações, aumento expressivo de receita e um elenco competitivo, mas ainda enfrenta restrições impostas pelas regras financeiras da Premier League.
Evolução no centro de treinamento
Quando Howe assumiu o comando pouco depois da aquisição, o centro de treinamento de Benton foi considerado “bem abaixo” do padrão da elite inglesa. Hoje, o local conta com piscinas de hidromassagem e imersão, novo refeitório, sala de convivência para atletas e vestiários ampliados, entre outras melhorias.
Resultados esportivos
Os investimentos refletiram no gramado. Desde novembro de 2021, somente Manchester City, Liverpool e Arsenal somaram mais pontos que o Newcastle na Premier League. O time encerrou um jejum de 70 anos sem títulos domésticos ao conquistar a Copa da Liga (Carabao Cup) em março, superando o Liverpool na final, e disputou a Liga dos Campeões em duas das últimas três temporadas, incluindo a maior vitória do clube no torneio contra o Union Saint-Gilloise nesta semana.
Mercado, saídas e estrutura executiva
Apesar da evolução, a janela de transferências recente foi considerada desgastante. Sem um diretor esportivo desde a saída de Paul Mitchell, em junho, o clube deixou escapar alguns alvos e perdeu o atacante Alexander Isak para o Liverpool por 125 milhões de libras – recorde britânico. O elenco recebeu reforços que totalizaram gasto líquido de aproximadamente 100 milhões de libras.
Receita triplicada e impacto das regras de sustentabilidade
A receita anual deve saltar de 140 milhões de libras (2021) para algo acima de 400 milhões quando o balanço 2023-24 for divulgado. O quadro de funcionários passou a 550 pessoas, e centenas de milhões foram injetados nas categorias de base, na equipe feminina e nas operações diárias.
Mesmo assim, o Newcastle chegou perto de infringir o limite de 105 milhões de libras de perdas acumuladas em três anos previsto pelas Regras de Lucro e Sustentabilidade (PSR) em junho de 2024. O clube possuía apenas o oitavo maior gasto salarial da liga recentemente, cenário que contrasta com o Manchester United, capaz de gerar 666,5 milhões de libras em receita total, sendo 333,3 milhões em acordos comerciais e 160,3 milhões em bilheteria – contra 83,6 milhões e 50,1 milhões do Newcastle nas contas mais recentes.
Para o especialista em finanças Kieran Maguire, as regras ajudam a impedir “um novo City ou Chelsea”, criando um “teto de vidro” para clubes emergentes.

Imagem: bbc.com
Disputas sobre patrocínios relacionados
Dias após a compra, executivos de 11 clubes pediram ao campeonato uma votação que impôs suspensão temporária a acordos com empresas ligadas aos novos proprietários. As normas sobre transações com partes relacionadas continuam vigentes, e o novo CEO David Hopkinson – ex-Real Madrid e Madison Square Garden Sports – trabalha para “destravar o potencial comercial subaproveitado” do Newcastle.
Debate sobre direitos humanos
A presença majoritária do PIF mantém o clube sob escrutínio. Felix Jakens, chefe de campanhas da Anistia Internacional Reino Unido, ressaltou que “metas e glórias distraem” de 345 execuções registradas na Arábia Saudita em 2023. A deputada Chi Onwurah, que representa Newcastle Central, afirmou que os torcedores “são os últimos a escolher” quem controla o clube, mas reforçou que ninguém deve “justificar” o histórico saudita.
O objetivo de longo prazo do presidente Yasir Al-Rumayyan e do coproprietário Jamie Reuben continua sendo colocar o Newcastle “entre a elite mundial”, enquanto o clube busca equilíbrio entre ambição esportiva, limites financeiros e questões extracampo.
Com informações de BBC Sport