Em maio de 2016, um grupo de jogadores do Leicester City assistia pela televisão, na casa de Jamie Vardy, em Melton Mowbray, ao empate por 2 a 2 entre Tottenham e Chelsea em Stamford Bridge. Quando o apito final confirmou o resultado, a festa estourou: o Leicester, que iniciara a temporada cotado em 5.000/1 para ser campeão, levantava sua primeira taça da Premier League em 132 anos de história.
Recordações da noite do título
O lateral-esquerdo Christian Fuchs descreve aqueles 90 minutos como “o jogo mais difícil que nunca joguei”. Garrafas de cerveja voaram, a televisão de Vardy foi quebrada e, no jardim, o lateral-direito Danny Simpson chorou sozinho, aliviado após anos de dúvidas sobre a própria carreira.
O caminho até a glória
Uma temporada antes, o Leicester salvara-se do rebaixamento com sete vitórias em nove rodadas, mas o técnico Nigel Pearson foi demitido. Claudio Ranieri assumiu e, no mercado de 2015, chegaram nove reforços — entre eles o desconhecido volante francês N’Golo Kanté, o zagueiro Robert Huth em definitivo e Fuchs.
Com apenas uma derrota nos nove primeiros jogos, a equipe subiu de produção quando Ranieri fixou Simpson e Fuchs como laterais. Entre 29 de dezembro e 6 de fevereiro, não sofreu gols na liga. Vitórias marcantes sobre Liverpool (2 a 0, em 2 de fevereiro) e Manchester City (3 a 1, em 6 de fevereiro, no Etihad) fizeram o grupo acreditar.
Em 3 de abril, o triunfo por 1 a 0 sobre o Southampton garantiu vaga na Liga dos Campeões. Em 2 de maio, o tropeço do Tottenham selou o título. O Leicester terminou com 81 pontos, dez a mais que o vice-campeão Arsenal, acumulando 23 vitórias, 12 empates e apenas 3 derrotas.
Segredo: simplicidade e elenco estável
Segundo Fuchs, o plano de jogo era direto: “proteger a área” e, com a bola, achar Vardy. O time sofreu poucas lesões; Kasper Schmeichel e Wes Morgan atuaram em todos os 38 jogos, enquanto Huth, Riyad Mahrez e Vardy somaram 35 ou mais partidas cada. O elenco também se manteve unido, incentivado por bônus como noites no cassino oferecidas pelo então presidente Vichai Srivaddhanaprabha, que em agosto de 2016 presenteou 19 campeões com BMW i8 azul “protonic”.
Depois da consagração
O desmanche foi rápido. Kanté foi para o Chelsea semanas após o título; na temporada seguinte, Ranieri deixou o cargo em fevereiro de 2017 com o time a um ponto da zona de rebaixamento. Ainda assim, o Leicester alcançou as quartas de final da Liga dos Campeões contra o Atlético de Madrid e terminou a Premier League em 12º. Danny Drinkwater saiu em 2017, Mahrez em 2018.
Imagem: espn.com
Em outubro de 2018, Srivaddhanaprabha morreu em um acidente de helicóptero ao lado do estádio King Power, golpe sentido por todo o grupo. Sob comando de Brendan Rodgers, o clube ganhou a Copa da Inglaterra em 2021, mas foi rebaixado em 2023 e novamente em 2025, com um acesso no intervalo.
Onde estão os campeões
- Jamie Vardy disputou sua última partida pelo clube em 18 de maio de 2025, contra o Ipswich Town.
- Wes Morgan trabalha como olheiro do Nottingham Forest.
- Christian Fuchs é auxiliar técnico do Charlotte FC, nos Estados Unidos.
- Shinji Okazaki cofundou o Basara Mainz, da sexta divisão alemã, projeto para jogadores japoneses.
- Mark Schwarzer atua na mídia esportiva, mas não se considera campeão por não ter jogado um minuto sequer em 2015-16.
- Danny Simpson aposentou-se em julho de 2024 e joga partidas informais de 10 contra 10 em Manchester.
- Robert Huth deixou o futebol em 2019 e mantém medalha e troféu guardados, longe de casa.
O elenco voltou a se reunir em 2024, após a morte do ex-auxiliar Craig Shakespeare por câncer, e em julho de 2025 venceu a Soccer 7s Series Masters Cup em Singapura.
Pode acontecer de novo?
Analistas apontam três fatores decisivos para a campanha: estabilidade de escalação, peças ideais para o contra-ataque e tropeços dos rivais tradicionais. Embora considerados irrepetíveis, esses elementos não são exclusivos — fazem parte da fórmula que outsiders tentam reproduzir a cada temporada.
Com informações de ESPN